


entrevista no void shelter
leandro oliveira
1. Hoje, como vocês enxergam a identidade sonora da No Void Shelter? Quais elementos vocês consideram fundamentais para que o som seja imediatamente reconhecido como de vocês?
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O Unlock surgiu como um experimento de criar músicas explorando uma forma de composição diferente do que eu já fazia antes, experimentando sintetizadores e sons de piano, e isso fez com que nosso primeiro trabalho tivesse essa característica marcante de algo experimental que flerta com o progressivo. Mas quando juntamos todo mundo tocando, com os arranjos que cada um criou para o seu instrumento, as influências de bandas clássicas do heavy metal sobressaem e então temos esse mix de experimentalismo e estruturas e riffs que remetem ao rock/metal clássico. Talvez, falando da sonoridade, isso seja uma marca. Mas, na hora da composição de arranjos, eu sempre tenho a letra na minha frente, então a temática contribui muito para a sonoridade. Sendo assim, posso afirmar que o tema que trazemos de reflexão e questionamento sobre o mundo ao nosso redor também é uma característica fundamental para a nossa identidade, e o nosso som traduz esses sentimentos que expressamos em cada letra.
2. De onde nascem as letras da banda? Que sentimentos, vivências ou reflexões têm guiado o processo de escrita do primeiro disco?
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O nosso primeiro disco nasceu na pandemia da Covid-19. Antes mesmo de nascer a ideia da No Void Shelter, eu comecei a escrever reflexões sobre o momento que estávamos vivendo, desde como as pessoas estavam lidando e reagindo à questão da pandemia e como as autoridades políticas estavam se comportando e se posicionando naquele momento. Além disso, o disco também traz reflexões sobre como esse contexto interfere na vida do indivíduo, provocando reflexão, transformação e a necessidade de se apoiar naqueles que o cercam. Nesse caso, me inspirei na minha própria experiência familiar, onde buscamos força e apoio uns nos outros para conseguirmos passar por aquele momento difícil. Foi um momento em que acabei me descobrindo como compositor de letras, pois pela primeira vez me senti muito à vontade ao escrever, já que estava expressando algo que realmente fazia sentido para mim. Posso dizer que, nesse disco e no próximo, cujas letras também já escrevi, o sentimento que guia as músicas é de insatisfação e frustração com a forma como a humanidade vem conduzindo sua história, mas tentando trazer a reflexão para que possamos buscar mudanças e nos guiar para um futuro melhor. Então o processo era escrever reflexões e depois organizar em versos e, na hora de criar melodia e harmonia, eu estruturei a letra para funcionar como música.
3. Como é o processo de composição da No Void Shelter? Existe alguém que centraliza as ideias ou tudo acontece de maneira realmente coletiva?
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Sim, até o momento existiu uma centralização que, no caso, sou eu mesmo, Gustavo Lacerda, quem apresenta para a banda a ideia inicial das músicas. Por ser cantor e guitarrista, acabo ficando responsável por partes que acabam sendo cruciais para o nascimento de uma música, que são a letra, a melodia e os riffs. Como disse anteriormente, nas músicas que já fiz, eu comecei pelas letras e improvisando arranjos e riffs desenvolvi a melodia. Então, com a estrutura e os arranjos de guitarra e voz principal prontos, eu apresento para a banda, e aí cada um desenvolve seu arranjo. No Unlock, também fiquei responsável pelos teclados e sintetizadores, pois foi um momento em que eu estava explorando esses instrumentos para tentar criar algo diferente das dez músicas que já tinha feito utilizando a guitarra como instrumento guia. Essas dez músicas serão o setlist do nosso próximo disco, Screams and Shadows.
4. Qual tem sido o impacto de fazer parte do Mariutti Team na rotina e na evolução artística da No Void Shelter? O suporte da equipe trouxe mudanças na forma como vocês organizam, produzem ou apresentam o trabalho?
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No último ano, finalmente pudemos ver o nosso nome começar a circular mais e oportunidades importantes baterem na nossa porta. Sem dúvida, isso é fruto da nossa parceria com o Mariutti Team, que abriu nossos olhos para uma forma eficiente de desenvolver o trabalho de divulgação de uma banda autoral. Antes sentíamos que não saíamos do lugar. Por mais que tentássemos diversas estratégias, a Mariutti Team nos apontou um caminho que nos trouxe resultado. E, para mim, um divisor de águas foi nossa participação na feira Conecta+ em setembro deste ano de 2025, que nos proporcionou muitas conexões importantes e que tenho certeza de que ainda nos trarão muitos frutos. Ainda este ano, pudemos abrir o show do Shamangra em Santo André-SP, nosso primeiro show no estado de São Paulo. E temos ainda muitos frutos para colher com essa parceria. Como sempre digo, a Mariutti Team é um divisor de águas na cena do metal nacional e também já é na história da No Void Shelter.
5. Como foi para vocês subir ao palco em Santo André? Foi o primeiro show na cidade? Houve alguma surpresa, desafio ou momento marcante nos bastidores?
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Sem dúvida, esse show em Santo André já é um marco na nossa história, pois foi o nosso primeiro show não só na cidade, como também no estado de São Paulo. Até então, tínhamos tocado somente em Belo Horizonte, nossa cidade, e em cidades próximas.
Para nós, foi muito emocionante poder tocar ao lado de grandes músicos das bandas Pressure Gain e Shamangra. Bandas que admiramos muito e, no caso do Shamangra, poder estar ao lado de músicos que foram inspiração e contribuíram muito para a nossa formação musical. Então foi uma experiência muito especial para nós. A estrutura e o cuidado da casa e dos profissionais com o nosso trabalho foram impecáveis, e isso tudo torna a experiência ainda mais incrível e memorável.
Para esse show, tivemos que nos desdobrar um pouco, pois foi em um domingo à noite e, na segunda de manhã, todos teríamos que estar em Belo Horizonte para retomar a rotina do dia a dia com família e trabalho. Então os outros membros da banda tocaram e já pegaram a estrada, enquanto eu fiquei até o final para poder apreciar os outros shows e fortalecer conexões — algo que considero muito importante nesse meio.
No final, deu tudo mais do que certo. Acho que, nos bastidores, o mais incrível foi estar entre tantos músicos incríveis, e o destaque da noite ficou para o público, que estava maravilhoso.
6. O que vocês podem revelar sobre o novo disco? Existe um conceito central guiando as músicas? Como vocês avaliam a evolução artística da No Void Shelter?
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O novo disco tem uma curiosidade interessante. As letras e a estrutura básica das músicas foram criadas antes mesmo do Unlock. Com o contexto da pandemia, preferimos guardar essas músicas para poder gravar em um estúdio adequado, algo que não tínhamos acesso quando gravamos o Unlock. Para seguir os protocolos de distanciamento, gravamos com bateria eletrônica em local aberto, evitando locais fechados e contato com pessoas fora do nosso ciclo. Assim, o Screams and Shadows ficou guardado. Mas as letras, melodia e arranjos de guitarra foram criados antes. E hoje já estamos trabalhando nele. Temos arranjos de bateria bem adiantados e, no momento, o Thiago e o Daniel estão desenvolvendo suas partes de baixo e guitarra. A temática das letras se conecta com o Unlock quando pensamos nesse lado do disco trazer reflexões sobre o ser humano e a sociedade. Mas, enquanto o Unlock tinha um olhar voltado para um momento específico da história, pode-se dizer que Screams and Shadows traz uma reflexão mais ampla, mas sem deixar de ter esse elemento de crítica social e convite à reflexão e transformação do indivíduo, o que acaba sendo mais uma vez o contexto central.
Pode-se dizer que o disco se apoia em três pilares que refletem sobre a relação entre classes sociais, o efeito e o poder que instituições religiosas têm sobre nossas vidas e a nossa relação com o trabalho e como isso nos afeta.
Em Santo André, tocamos a música Seeking Shadows, que é uma das músicas que estará no trabalho novo.
Acredito que estamos aprendendo cada vez mais como nos posicionar na cena do metal nacional. O segundo disco vem para firmar quem somos e para que a No Void Shelter está aqui. Agora com mais experiência, maturidade e com o apoio da Mariutti Team, que com certeza vai fortalecer ainda mais esse trabalho. Ainda não temos previsão de lançamento, mas estamos ansiosos para trazer o Screams and Shadows à vida.
Se quiser, posso transformar isso em uma matéria completa para o Mariutti Team Zine, com título, subtítulos editados, destaques e edição jornalística.




