


entrevista casal mariutti
leandro oliveira
Luis, você tem um novo projeto para 2025: Ready to be Hated. A estreia da banda precisou ser adiada devido ao cancelamento do evento que seria realizado em janeiro. Como está a sua ansiedade? E como você enxerga a questão de buscar novas sonoridades?
Luis - O fato do cancelamento do show, foi um momento de reflexão, apesar de estarmos esperando por isso, avaliamos que para a banda seria uma oportunidade para estudarmos mais as músicas, nos preparando assim para a gravação do disco que começa agora em fevereiro. Claro que deu uma ansiedade, mas o show seria um pocket show com músicas do Unholy também, além das 3 músicas lançadas pela banda, algo como uma pré-estreia. Então eu acredito que para a banda foi bom, conseguimos fechar as músicas, nos dedicarmos ao disco e nos prepararmos para o lançamento real no Bangers Open air.
A cena do heavy metal no Brasil sempre enfrentou desafios, mas também evoluiu bastante nas últimas décadas. Como você enxerga esse cenário atualmente? Ainda é tão difícil para as bandas se consolidarem como era nos anos 90?
Luis - As dificuldades e circunstâncias são diferentes. Apesar de termos grande exposição com as redes sociais, e estarmos mais organizados com relação a nossa cena. Ainda sofremos com a falta de investimento, com o circuito limitado, a concorrência voraz das bandas internacionais, além da constante cobrança para que além da nossa música, a gente entregue criação de conteúdo. Continua um trabalho árduo com muitas possibilidades, se a banda tem objetivos bem traçados e planejamento para chegar lá.
Fernanda, você trabalha diretamente com produção artística e gerenciamento de carreira. Quais são os maiores desafios de atuar nos bastidores do metal nacional e como você enxerga o crescimento desse mercado?
Fernanda - No meu caso específico acredito que a maior dificuldade é ser mulher, esposa de músico. A balança que pesa as ações é bem mais pesada para mulheres. Eu vejo tanto homem medíocre ganhando inúmeras chances para realizar de forma duvidosa seu trabalho, enquanto a mulher precisa ser sempre excelente para não ter suas capacidades julgadas e conquistas desmerecidas. Sinceramente refletir sobre isso em pleno 2025 é exaustivo, a verdade é que não importa o quanto eu faça pela cena, sempre vai ter alguém para me chamar de “Yoko Ono”.
Meu objetivo quando levei o Mariutti Team do Muay Thai para a música, era trazer toda uma história de luta e superação do Luis à tona. Para que todos pudessem conhecer esse lado dele, e para que ele mesmo, nunca se esquecesse o tanto que ele realizou, e o quanto lutamos pela nossa família. Esse é um propósito genuíno, cheio de amor e parceria, e eu compreendo que nem todos consigam entender essa força, mas não é algo que se consiga destruir facilmente. Por isso sempre seguimos em frente.
Quanto ao mercado, eu acredito que estamos em um momento de transição e entendendo onde as bandas nacionais vão se encaixar. Vemos a tendência de micro eventos, o surgimento de casas de shows com lotação de bares, mas também atravessamos um momento de muitos festivais e bandas internacionais realizando shows gigantes. Essa é a primeira grande mudança desde o pós-pandemia, onde todos queriam sair de casa. A forma como as pessoas estão gastando dinheiro está mudando, e isso vai ditar as novas formas de empreender, cabe a nós encontrarmos soluções para as novas realidades de consumo.
Nos últimos anos, temos visto um aumento na profissionalização da cena independente, com artistas buscando estratégias mais sólidas para divulgar seu trabalho. Como você, Fernanda, enxerga esse movimento? E Luis, como músico, como tem se adaptado a essas mudanças?
Fernanda - As bandas estão entendendo os processos de se ter uma banda profissional. Quando a banda é independente, é dela a responsabilidade de planejar, investir e executar os processos para transformar a banda em um produto comercial. Ainda existe muita banda gastando dinheiro, dizendo que está buscando o sonho, mas não entende todos os processos e acaba, por exemplo, gastando demais em um clipe que ninguém vai assistir, porque não teve estratégia. E assim, dá muito trabalho ter banda, então ou você aprende a fazer bem-feito, ou você paga quem faça, sem nenhum problema. Apenas valorize seu tempo e dinheiro.
Luis – Nessa altura da minha vida e carreira, sendo um profissional da música há mais de 30 anos, eu acredito que sou um agente dessa mudança. O Mariutti Team vem trabalhando para essa mudança, apoiando bandas e a cena, abrindo espaço, implementando a nossa forma de trabalho. Isso inspira tanto os que estão começando, quanto os que já estão na cena a muito tempo e possam ter vícios de comportamento. Mostramos que podemos fazer diferente e alcançar ótimas métricas e resultados.
Fernanda, você sempre mostrou grande profissionalismo e respeito nos eventos produzidos pelo Mariutti Team. São eventos onde o público tem a oportunidade de estar mais perto dos músicos, onde nunca houve um atraso, sempre uma produção impecável. Você pensa em desenvolver esse trabalho de produtora para outras bandas?
Fernanda - Com certeza. Estou há 20 anos no backstage de grandes, médios e pequenos shows. Além de toda a dinâmica com equipe, palco, logística...existem detalhes, que fazem a diferença na experiência de bandas e público, que só quem esteve presente em todos os lados do processo pode entregar. Esse é o diferencial do Mariutti Team, temos a experiência do músico renomado Luis Mariutti, e a minha expertise em produção, temos mídias próprias, além de trazer uma comunidade engajada no procedimento.
O Mariutti Team Zine tem sido uma iniciativa muito bem recebida pelos fãs. Todas as colunas apresentam bandas nacionais, a revista tem engajamento e a premiação de melhores do ano sempre contabiliza uma votação na casa dos milhares. Qual a importância dele para fortalecer a conexão entre vocês e o público?
Fernanda - Uma cena não existe sem mídia. Quando começamos o zine em 2019, alguns acharam que estávamos indo na contramão, produzindo uma revista impressa na época das redes sociais. Mas a gente estava carente de mídia, o underground não tinha nada relevante e as mídias maiores só abriam espaço para os grandes nomes. Começamos a idealizar uma mídia integrada com a comunidade, onde pudéssemos entregar o nosso produto de várias formas. Utilizaríamos as ferramentas das redes sociais, e entregaríamos um E-zine, mas também resgataríamos aquela sensação boa de receber uma revista em casa, sentir o cheiro da impressão e descobrir coisas novas através do impresso em mãos. Essas experiências aumentam a identificação com o artista além de trazer uma sensação de pertencimento. O zine é o meu xodó, e hoje, mais do que nunca, eu acredito que todas as batalhas para entregar 39 edições, tiveram um propósito grande de mudança de pensamento e atitude.
Hoje vemos novos zines surgindo, e muitas páginas na internet com a intenção de divulgar o underground, eu fico feliz de o Mariutti Team inspirar tantas pessoas, e do Mariutti Team Zine ser a primeira revista 100% dedicada ao Metal Nacional!
Luis – O zine nos faz estar na pista o tempo inteiro, estamos sempre cara a cara com as bandas, conhecendo na fonte. Então o nosso zine tem a verdade do metal, esse contato direto, sem intermediários. Isso fortalece a imagem e a credibilidade do zine, e também a cena. É por isso que temos tantas bandas parceiras.
Por fim, quais são os próximos passos para vocês? Recentemente vocês lançaram um novo canal no Youtube, o Mariutti Team TV.
Fernanda – Esse ano estamos avaliando muitas coisas, o que funciona fica e o que não funciona, vai. Criamos o canal novo para aproveitar muito conteúdo que era criado e não cabia no canal Luis Mariutti. Coberturas de shows, entrevistas do zine, acontecimentos da cena Metal, agora tem um canal específico para aumentar ainda mais o alcance das investidas do Mariutti Team.
Estamos aprendendo com o que não deu certo e aprimorando, sempre aprendendo. É um ano que estamos voltados também para as nossas atitudes e crescimento pessoal, filtrando muita coisa e dedicando nossa energia apenas ao que nos faz bem.
Luis – Esse é o ano das metas, criamos muitas coisas e agora queremos atingir o planejado para todas elas. Banda nova, canal novo, o zine vem com cara nova também, estamos produzindo bastante, mas sempre colocando a nosso bem-estar, família e saúde em primeiro lugar.

entrevista helena nagagata
lucas mariano
1) Quando começou seu desejo pela música?
A música sempre foi uma parte fundamental da minha vida. Tudo que eu fazia praticamente envolvia música - eu fazia "shows” para minha família quando criança, passava o tempo todo ouvindo música, primeiro em um discman e mais tarde em mp3 e mp4. Quando eu descobria uma música nova e ela me deixava obcecada, eu precisava sair da sala no meio da aula para ouvi-la escondida no meu mp4. Esse era meu nível de obsessão pela música, eu precisava chegar em casa logo e só ouvir as minhas músicas favoritas, descobrir e baixar novas, etc. E aí, quando adolescente, surgiu o Youtube e eu comecei a descobrir um monte de bandas novas. Um dia, vendo um vídeo de uma delas, veio uma voz na minha cabeça: ˜Você precisa fazer isso pro resto da sua vida". E desde então eu nunca olhei para trás.
2) De qual parte do Brasil você é?
Rio de Janeiro, nasci e morei aqui minha vida toda - até agora. Mas desde que eu comecei a trabalhar com música efetivamente, me divido muito entre Rio - São Paulo, por isso meu coração é um pouco paulista também.
3) Porque escolheu a guitarra? Toca outros instrumentos?
Pode soar clichê ou até meio brega, mas é a verdade: eu não lembro de um dia ter escolhido, acho que sempre foi maior do que eu. A guitarra sempre foi minha opção número um, assim que eu soube que eu precisava fazer música, eu já tinha certeza na minha cabeça que era a guitarra. Mas eu a vejo como um veículo para que eu faça música, ela é como eu consigo expressar melhor a minha musicalidade. Eu também toco violão de nylon - estilo popular e tento um pouco de clássico às vezes - e também piano. Em alguns momentos da minha vida, já me dediquei mais a esses outros instrumentos, tocava umas pecinhas de Bach etc aqui e ali, mas por sorte, hoje graças a minha carreira como guitarrista estar caminhando bem, acabo tendo que focar quase que integralmente nesse instrumento.
4) Quais seus Hobbies?
Eu dedico bastante do meu tempo livre a musculação, gosto de acompanhar o universo do bodybuilding. Comecei a malhar como fisioterapia por causa de uma tendinite quando tinha 18 anos e nunca mais parei.
Sou uma pessoa muito caseira e introvertida no meu dia-a-dia, então gosto de atividades mais calmas - cozinhar, passar tempo com a minha família e com as minhas cachorras.
5) Quais as suas influências?
John Petrucci é minha maior influência, como guitarrista, compositor e até na vida - ele ter formado o Dream Theater em uma faculdade, na Berklee, foi uma das minhas maiores motivações para que eu mesma fizesse faculdade de música. Debussy, por todo o movimento sonoro novo que ele trouxe, rompendo os moldes da época - o que pra mim se relaciona muito com o progressivo. Me influencia muito na forma como ele conduz as melodias, de uma forma quase etérea, quase como um sonho. E Egberto Gismonti, que pra mim, é o maior músico brasileiro.